UM CONVITE...

Quando uma sociedade é incapaz de criar as justificativas da sua existência, modifica imediatamente os mecanismos de produção das ideologias. A universidade sempre foi um desses mecanismos. Mas se a universidade já não pode mais dar resposta ao atual estágio de dominação, é porque de alguma forma as pessoas começaram a despertar. Deixaremos mais uma vez os soníferos discursos das modernizações conservadoras nos colocarem na cama ou nos levantaremos definitivamente? Fazemos, então, um convite à rebeldia e à criatividade. Não podemos aceitar a velha universidade burocratizada, nem a UNIVERSIDADE NOVA colonizada. Construamos nós, junto aos trabalhadores, a Universidade Popular!

COMUNA


segunda-feira, 7 de maio de 2007

Universidade Nova: quem ganha com este projeto?

[Daniel Caribé - Militante da COMUNA]

1. Os mercadores do ensino: os donos das universidades privadas, que em sua grande maioria não tem nenhum compromisso com a construção do saber – seja de que tipo for –, expandiram seus negócios de forma muito rápida nos últimos anos, contanto aí incentivos oferecidos pelo governo FHC e que foram intensificados no governo Lula. Mesmo com todos esses programas, há neste setor uma taxa de evasão muito elevada, assim como o número de vagas ociosas. Um grande problema para quem trata a educação enquanto mercadoria e que, portanto, tem necessidade que os estudantes efetivem os pagamentos das mensalidades para continuar lucrando! Já é sabido que os governos neoliberais dos últimos anos transferiram os escassos recursos da educação superior para estas instituições através de inúmeros programas. Agora a Universidade Nova se apresenta como mais uma solução para estes empreendimentos. Com o provável gargalo que será a passagem dos BI's (Bacharelados Interdisciplinares) para os cursos qualificados e realmente significantes (mesmo para quem quer ser "apenas" mão-de-obra qualificada), destinados para uma elite de "excelência", uma grande quantidade de estudantes terá que buscar o complemento dos seus estudos em uma das universidades privadas. Como boa parte da população não terá recursos para adentrar nestas instituições, uma quantidade ainda maior de programas de transferência de recursos terá que ser criada, enquanto para o outro lado – as universidades estatais – não se prevê nenhuma verba a mais para a educação nos próximos 10 anos. A Universidade Nova também prevê cursos à distância (de forma virtual) e uma multiplicação de estudantes por sala de aula, o que diminui consideravelmente os custos na medida em que precariza ainda mais a educação.

2. A Burocracia Acadêmica: um dos argumentos a favor da Universidade Nova é a possibilidade de acabar com os "feudos" dentro das instituições estatais de ensino. Pode-se até mudar o nome de feudo para burgos (ou para bancos), mas uma elite ainda continuará a dominar as universidades, desta vez muito mais integrada à dinâmica do capital. O novo projeto do MEC (cujo reitor da UFBA, Naomar, é um mero porta-voz), foca nossas atenções propositadamente nos ciclos básicos, o que eles chamam de BI's (Bacharelados Interdisciplinares). Fazem isto para que o debate não gire em torno das pós-graduações e da pesquisa. Esse projeto prevê uma total desarticulação entre o primeiro momento e os posteriores, criando na verdade dois modelos distintos de universidade. O primeiro modelo, como já tentamos explicar, serve para a produção de mão-de-obra flexível, para atender a demanda imediatas do capital. O segundo modelo também atende à demanda do capital, só que produzindo conhecimento subordinado. Esta segunda universidade, sem nenhum vínculo com a "senzala" da graduação (ou com o "chão-de-fábrica" caso queiramos ser mais modernos na linguagem) estará institucionalmente liberada para captar recursos no mercado e terá a sua disposição uma quantidade de professores com o tempo livre suficiente para produzir este saber privatizado. Nitidamente, serão professores de "excelência", com maior qualificação, que dominarão esta segunda universidade. Da mesma forma que se criarão duas universidades e dois tipos de estudantes, teremos também dois tipos de professores: um para a senzala, outro para a casa-grande, como já acontece nas unidades mais privatizadas das grandes universidades brasileiras – sim, queremos expor com o uso desta terminologia todo caráter racista deste projeto, assim como já o é na Europa e nos Estados Unidos.

3. O Governo Lula: o governo Lula se livra de uma grande confusão. A Reforma Universitária provocou a universidade velha, e os movimentos em defesa da educação depois de um longo período de desorganização conseguiram sem unificar. A Reforma Universitária é apontada como um projeto autoritário, imposto de cima para baixo, sem ouvir as históricas bandeiras dos estudantes, dos trabalhadores em geral e dos sindicalistas do setor. A estratégia do governo de empurrar para os reitores a iniciativa reformulação da universidade brasileira não poderia ter sido uma saída melhor! Agora se usa o argumento de que a universidade será reestruturada a partir das suas próprias demandas, respeitando sua autonomia, já que surge da cabeça de reitores democraticamente eleitos. Ainda mais: o projeto usa de forma completamente invertida as demandas dos movimentos sociais: fim do vestibular, ampliação de vagas e autonomia universitária. O Governo Lula sai por cima desta vez, porque arranjou quem fizesse por ele o jogo sujo, com uma brilhante fórmula de transformar o que era autoritarismo em democracia, sem mudar a essência da proposta.

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