UM CONVITE...

Quando uma sociedade é incapaz de criar as justificativas da sua existência, modifica imediatamente os mecanismos de produção das ideologias. A universidade sempre foi um desses mecanismos. Mas se a universidade já não pode mais dar resposta ao atual estágio de dominação, é porque de alguma forma as pessoas começaram a despertar. Deixaremos mais uma vez os soníferos discursos das modernizações conservadoras nos colocarem na cama ou nos levantaremos definitivamente? Fazemos, então, um convite à rebeldia e à criatividade. Não podemos aceitar a velha universidade burocratizada, nem a UNIVERSIDADE NOVA colonizada. Construamos nós, junto aos trabalhadores, a Universidade Popular!

COMUNA


terça-feira, 3 de julho de 2007

Dois de Julho também é dia de lutar contra a Universidade Nova!

[Daniel Caribé – Militante d@ Comuna]
[Luamorena Leoni - Militante do DAMED]

Estudantes de Medicina, da Universidade Federal da Bahia, saem às ruas no Dois de Julho, dia da Independência do estado, para protestar contra a Universidade Nova. De forma irreverente e com muita animação, chamaram a atenção da população com paródias de músicas e ataques à reitoria.

Dois de Julho é o dia em que o povo baiano relembra sua libertação do colonialismo. Após o tranqüilo 7 de Setembro em 1822, em diversas partes do país se desencadearam lutas que buscavam confirmar a emancipação do Brasil. Mas foi quase um ano depois, no dois de Julho de 1823, que o proletariado baiano (ou a camada da população que mais a frente formaria um) viria a derrotar definitivamente o antigo colonialismo nas batalhas que se estenderam pela região que forma hoje o Recôncavo Baiano e a periferia da cidade de Salvador.

E, ainda que as elites soteropolitanas tentem, a cada novo 2 de Julho, alienar o valor histórico desta data e impor-lhe um outro valor que não o da luta, o povo sempre volta às ruas para reafirmar que a sua libertação ainda não é finda, e mostrar aos que vivem da exploração do trabalho alheio que, assim como não há o fim da história, não houve o "fim do jogo".

"Ele, ele, é traidoooor! É traidoooor! É TRAIDOR!"

Este ano, derrotado o carlismo nas últimas eleições, tudo indicava que seria uma grande festa dos petistas. Porém, os fatos dos últimos dias, principalmente a persistência da greve dos professores do ensino público, mostraram que as práticas de autoritarismo e descaso continuam vivas naqueles que detêm o poder do Estado.

Em quase toda a primeira parte do trajeto, que vai da Lapinha ao Terreiro de Jesus (principal praça do Pelourinho), o governador Jacques Wagner foi recebido com vaias pela população. Foi a forma que os baianos descobriram para dizer que vencidas várias batalhas, dos portugueses ao carlismo, o governo do PT só representa o continuísmo.

O PT, que durante muito tempo desfilou o percurso achando-se a encarnação dos Heróis da Independência, teve, este ano, um "tratamento diferenciado" – prova de que para os trabalhadores, cada vez mais, Estado e luta não combinam. Enquanto os petistas e seus novos aliados eram vaiados pela população, a maior ala do desfile, vestida toda de preto, recebia os aplausos por onde passava: eram os professores do estado que há 55 dias resistem em greve, mesmo tendo os salários cortados pelo governo. A resposta à criminalização dos docentes estaduais, encampada pela imprensa carlista e pelo governo Wagner, foi dada nas ruas!

Estudantes de Medicina contra a Universidade Nova e a Universidade Livre!

Mas o 2 de Julho foi dia também de protestar contra a Universidade Nova. Estudantes de medicina, da Universidade Federal da Bahia, organizaram a sua própria ala e durante todo o trajeto desfilaram de forma irreverente e politizada, protestando contra o Universidade Nova e seus sub-projetos.

Um destes sub-projetos, a "Universidade Livre", representa, apesar do nome, a rendição física da universidade ao capital internacional – a nova política de extensão da Universidade Federal da Bahia, se redefinida a partir deste projeto, terá como público-alvo prioritário os "parceiros do hemisfério Norte". Trocando em miúdos, a idéia é oferecer cursos pagos durante os verões do Sul e do Norte para estudantes estrangeiros – para tal, a verba destinada à recuperação do prédio da Faculdade de Medicina (o de maior área de todo o Pelourinho!) seria direcionada para adaptar a estrutura física às necessidades da clientela internacional: criação de um café, restaurante, mirante, passarela, mini-shopping e, como não poderia deixar de ser, um “mini-albergue”.

Dentre os "parceiros do Hemisfério Sul" destacam-se o Instituto de Hospitalidade – instituição que busca organizar o acolhimento de Salvador aos turistas nacionais e internacionais – Bancos e empresas em geral. Vale frisar que os planos do Instituto de Hospitalidade para o prédio da FAMEB no Terreiro de Jesus não datam de agora, e que o seu conselho diretor tem uma composição muito sugestiva – a ODEBRECHT (empreiteira soteropolitana/reduto carlista), Gol Linhas Aéreas e, como não poderia deixar de ser, o prof. Naomar Monteiro de Almeida Filho, o Rei-Thor da UFBA. A alusão a ACM não é mera coincidência – não podemos esquecer a mágica da revitalização do pelourinho, realizada durante o governo dele, na década de 90: feita para os turistas. À população preta e pobre do pelourinho, despejada de suas próprias casas, restou o apartheid e o "jeitinho brasileiro", coisa de quem nasce e a primeira coisa que aprende é a resistir – Ò PAÍ, Ó!

"Êta! Êta, Êta, Êta! Essa UniNova é coisa de Picareta!"

Além de serem contra a neo-colonização dos prédios da UFBA – reflexo físico da colonização do conhecimento produzido aqui, já em curso, e que tem no REUNI, a UniNova imposta por Lula, a sua expressão objetiva - os estudantes de medicina também colocaram em xeque os Bacharelados Interdisciplinares, a falácia do fim do vestibular. Demonstraram, com as suas paródias, consciência de quem ganha e quem perde com a esse projeto:

"No BI a turma é grande, mas a educação é pequena"

e reafirmaram que não querem nem a Universidade Nova, nem a velha, mas uma universidade ligada às demandas dos trabalhadores:

"Se ligue meu irmão,

Não aceitamos a imposição:

Qualquer mudança

tem que vir do povo,

Isso nós não largamos de mão!"

A Manifestação terminou no Terreiro de Jesus: os estudantes aproveitaram que a primeira parte do desfile terminava exatamente em frente ao prédio da FAMEB no Pelourinho e estenderam suas faixas para reafirmar publicamente que há resistência aos planos do Reitor Naomar, coisa que vem fazendo desde o dia 20/06 (quando paralisaram as atividades acadêmicas e fizeram uma passeata dentro do campus do Canela cujo fim foi a Reitoria da UFBA).